Reportagem / Stories: Mulheres de futuro incerto.

Reportagem / Stories: Mulheres de futuro incerto.

21/11/2013

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei 12.305 de 2010, tem como meta o fechamento de todos os lixões no Brasil até 2014. Os municípios deverão ter um plano de gestão de resíduos sólidos para ter acesso a recursos financeiros do governo federal e investimento no setor. O país tem hoje 2.906 lixões em atividade e das 189 mil toneladas de resíduos sólidos produzidas por dia, apenas 1,4% é reciclado.

Aproximados um ano e meio após o fechamento do aterro de Jardim Gramacho, retornei para uma reportagem sobre o fim de mais um lixão no município do Rio de Janeiro. Foi a vez de adentrar no aterro de Gericinó, localizado em Bangu, que tem o encerramento das atividades marcado para março de 2014, sendo o único da Região Metropolitana ainda com catadores. Dos 246 trabalhadores, metade (123) são mulheres que segundo pesquisadores enfrentarão dificuldades de inserção.

Lá estavam ‘elas’ com a vaidade representada em tons de rosa choque, azul royal, laranja, amarelo, vermelho e estamparias floridas das suas roupas. Em um Brasil onde 40% das mulheres são chefe de família, com certeza também não ficariam ausentes dos números e da dura realidade social dos lixões.

Encontramos com elas o sentimento de incerteza do próprio futuro, com o fim das suas atividades na montanha de lixo de mais de 60 metros de Gericinó. Apesar de terem sido credenciadas pela prefeitura para receber o fundo de capacitação no valor de R$ 13.900, a grande maioria tem total consciência de que a quantia é pouca para garantir o sustento de suas famílias e reconstruir as suas vidas. São vários os fatores que dificultam ainda mais as chances de oportunidade: a idade avançada, saúde precária em função das condições insalubres que estão expostas, baixa escolaridade, a informalidade trabalhista de quem sequer teve na vida uma carteira de trabalho assinada. A batalha das catadoras do aterro de Gericinó foi a segunda reportagem de três, publicada no decorrer dessa semana no Jornal Metro Rio.

Sobre a fotografia? Por ironia do destino após anos trabalhando com criação publicitária, onde imagem é utilizada na maioria das vezes para incentivar o consumo, estava ali agora como fotojornalista, diante das graves consequências sociais e ambientais causadas por um sistema de vida que levamos nem um pouco sustentável. Após migrar para o jornalismo, tenho compreendido que mesmo diante da necessidade da imparcialidade em transmitir a informação através da imagem fotográfica, o simples fato de ‘mostrar’ é uma forma de dar voz. Que saibamos escutá-las, para torná-las instrumento de reavaliação e modificação na busca de uma sociedade mais consciente e menos desigual.

Matéria na íntegra: http://issuu.com/metro_brazil/docs/20131119_br_metro-rio/7?e=0